Acerto de contas com morte expõe tráfico e sensação de insegurança na Asa Norte
- Ananda Moura

- 26 de set.
- 3 min de leitura
26/09/2025 Um tiroteio ocorrido na manhã de quinta-feira (25/9), na invasão da Chacrinha (611 Norte), deixou um homem morto e dois feridos, em um episódio que a polícia investiga como possível acerto de contas ligado ao tráfico de drogas. O ataque, que somou 11 disparos em plena avenida, reforçou a preocupação de moradores e comerciantes com a sensação de insegurança na Asa Norte, especialmente pela presença de traficantes infiltrados entre a população em situação de rua.

Vozes da comunidade
Comerciantes e moradores relatam que a violência vem crescendo na região.
José, comerciante há 20 anos, diz que já presenciou assaltos, ameaças e brigas associadas ao tráfico. “A segurança está muito precária. Esses ‘moradores de rua’ coagem clientes e pedem até medicamentos. Hoje a gente sai sem saber se volta. Antigamente, a presença policial inibia, agora quase não se vê viatura”, afirmou.
Francisco, estudante de 24 anos, contou que já foi ameaçado e presenciou brigas violentas. “A gente não espera ver arma de fogo, mas os conflitos entre eles são comuns, principalmente à noite”, disse.
Antônio, comerciante de 35 anos, relatou ter sido ameaçado de morte após negar dinheiro a um homem em situação de rua. Também lembrou de episódios de violência causados por usuários alterados em frente à loja.
Pontos críticos do tráfico
Segundo o delegado-chefe da 2ª DP, Paulo Noritika, há ao menos quatro pontos críticos ligados ao tráfico na Asa Norte:
Invasão da Chacrinha (611 Norte) – local do crime;
910 Norte (atrás da Casa do Ceará);
410 Norte (área boêmia com registros frequentes de uso de drogas);
abaixo da Ponte do Bragueto, que passou a preocupar recentemente.
Ele ressaltou que a Asa Norte concentra a maior população em situação de rua do DF, mas ponderou: “A maioria são trabalhadores honestos da reciclagem. Outros se fazem de moradores para traficar e furtar”. O crack é apontado como a droga mais consumida.
Análise de especialistas
O professor Antônio Suxberger (Ceub), especialista em segurança pública, afirma que o tráfico se aproveita da vulnerabilidade dessa população. “Muitos enfrentam dependência química e acabam cooptados por traficantes. Além disso, a circulação constante dessa população facilita o acesso às drogas em pequenas quantidades”, explicou.
Para ele, ações conjuntas entre segurança pública e serviços sociais são fundamentais, priorizando investigações patrimoniais contra grandes traficantes e não apenas medidas contra pequenos usuários.
Resposta das autoridades
O comandante Michello Bueno (PMDF) disse que a invasão da Chacrinha é alvo frequente de operações. Barracas foram retiradas, restando 11 no local. Segundo ele, o crime mais comum na área ainda são furtos — de fios de cobre, tampas de bueiro, placas e baterias de veículos.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) divulgou que os índices da Asa Norte mostram quedas em crimes como roubo a transeunte (-11,6%) e a comércio (-41,7%), mas aumento no furto a pedestre (+35%) e em roubos de veículo (+25%).
A Sedes-DF informou que atua com 26 equipes de abordagem social, oferecendo acolhimento, hotel social, benefícios e encaminhamentos.
A DF Legal reforçou que as ações de acolhimento continuarão, apesar de muitas vezes a ajuda ser recusada.
Recomendações
O delegado Noritika fez dois alertas:
Registrar ocorrências presencialmente em casos graves de furtos e roubos, para agilizar investigações.
Evitar doações diretas a pessoas em situação de rua, que devem ser feitas por meio de ONGs credenciadas, para não atrapalhar políticas públicas de reinserção.









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