Isenção de IR pode gerar choque de consumo e elevar inflação e juros
- Ananda Moura

- 26 de nov.
- 2 min de leitura
26/11/2025 A isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais, somada aos descontos para salários de até R$ 7.350 a partir de 2026, sancionada nesta quarta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode provocar um aumento imediato no consumo e impulsionar o PIB, mas também pressionar a inflação e os juros nos próximos anos. A avaliação é da consultoria M4 Intelligence.

Segundo o estudo, a mudança deve colocar cerca de R$ 40 bilhões por ano no bolso dos trabalhadores beneficiados — um grupo com grande propensão ao consumo. A compensação virá da tributação sobre rendas mais altas, onde a tendência é de poupança, e não de gasto.
“Em outras palavras, haverá redistribuição de renda de pessoas com alta propensão a poupar para pessoas com alta propensão a consumir”, diz o relatório enviado a clientes.
De acordo com matéria do InfoMoney, com a nova tabela do IRPF prevista para entrar em vigor já em 2026, a consultoria considera provável que o aumento de renda líquida resulte em expansão de gastos no varejo e serviços.
Impacto estimado: até 0,6 ponto na inflação e alta nos juros
Nos cenários simulados pela M4 Intelligence, caso 100% desse ganho seja convertido em consumo, o PIB de 2026 pode crescer 0,2 ponto porcentual adicional. No mesmo cenário, a inflação subiria 0,3 ponto em 2026 e 0,6 ponto em 2027.
A taxa de juros ao fim de 2026 poderia ficar 0,9 ponto porcentual acima do previsto, e 0,5 ponto em 2027. Já o desemprego teria redução estimada de 0,2 ponto em 2026 e 0,1 ponto em 2027.
Se parte do aumento de renda for usada para quitar dívidas — cenário em que 80% do benefício vira consumo — os efeitos seriam menores. A inflação subiria 0,2 ponto em 2026 e 0,5 ponto em 2027, enquanto os juros avançariam 0,7 ponto e 0,4 ponto, respectivamente. O PIB cresceria 0,2 ponto em 2026 e se manteria estável no ano seguinte.
Em ambos os cenários, porém, a pressão inflacionária é considerada significativa — e maior em 2027 do que em 2026.
O efeito ocorre porque o aumento do consumo tende a elevar a produção, reduzir o desemprego e pressionar salários, gerando efeito secundário sobre os preços. A expectativa de inflação também pode reforçar esse movimento.
Política fiscal e ação do BC podem alterar resultados
A M4 Intelligence destaca que o impacto final da isenção de IR dependerá das respostas fiscal e monetária. Caso o governo não compense rapidamente a queda na arrecadação, pode haver impulso fiscal adicional, intensificando o repique inflacionário e a necessidade de juros mais altos.
Da mesma forma, se o Banco Central não atuar para conter o choque de demanda, a inflação pode subir além do estimado. No cenário oposto — com expectativas ancoradas e atuação firme da autoridade monetária — o efeito inflacionário seria menor.









Comentários