No Dia da Consciência Negra, prestamos homenagem à memória e ao legado de Luiz Gama. Negro, brasileiro, abolicionista e liberal, Luiz Gama foi um escravo baiano autodidata na alfabetização, cursou direito como ouvinte e desempenhou um papel crucial na libertação de centenas de escravos.
Aos 10 anos, Luiz foi vendido como escravo pelo próprio pai, que utilizou o dinheiro da venda para quitar uma dívida de jogo. Essa transação o levou a São Paulo, onde, mesmo no cativeiro, demonstrou uma notável autodidatismo ao aprender a ler e escrever por conta própria. Posteriormente, Luiz Gama reconquistou sua liberdade ao comprovar seu status de nascido livre.
O contato com textos jurídicos e obras literárias clássicas proporcionou a Gama uma base intelectual sólida, moldando sua compreensão do mundo e capacitando-o a utilizar seus conhecimentos em direito para conquistar a liberdade desejada aos 18 anos. Daí em diante, sua paixão pelas letras e seu espírito aguerrido não cessaram de crescer.
Apesar do preconceito racial, que o impediu de formalmente se formar em direito, Gama frequentava as aulas como ouvinte e tornou-se rábula, podendo exercer a advocacia em juízo. Sua atuação jurídica fez com que Luís Gonzaga Pinto da Gama, conhecido como Luiz Gama, se destacasse como "o advogado dos escravos". O único abolicionista a ter vivido a experiência da escravidão, Gama libertou mais de 500 pessoas por meio de seus estudos e empenho na luta pela liberdade.
Após a assinatura, em 7 de novembro de 1831, da lei que extinguiu o tráfico negreiro devido à pressão da Inglaterra sobre o Império brasileiro, Gama utilizou essa informação para trabalhar ativamente pela libertação dos escravizados. Ele passou a atuar em casos de pessoas contrabandeadas após essa legislação, argumentando que se a pessoa foi trazida ao Brasil depois de 1831, sua condição de escravizada era ilegal, o que resultou na libertação de centenas de pessoas.
Luiz Gama, além de ser um destacado defensor do abolicionismo no Brasil no século XIX, contribuiu para o movimento romântico brasileiro como poeta, lançando em 1859 o livro "Primeiras Trovas Burlescas de Getulino". Sua carreira no jornalismo inclui a criação do "Diabo Coxo", o primeiro jornal ilustrado de São Paulo, e a participação no periódico "Radical Paulistano", onde publicou o primeiro Manifesto Abolicionista. Gama também foi defensor da liberdade de imprensa, expressando seus princípios por meio de diversos artigos em jornais paulistas e cariocas.
Luiz Gama, incansável na luta contra a escravidão, faleceu seis anos antes da promulgação da Lei Áurea, que concedeu liberdade total aos escravizados. Em 24 de agosto de 1882, centenas de pessoas homenagearam o revolucionário durante seu cortejo fúnebre até o Cemitério da Consolação, onde ele repousa até os dias de hoje.
Em 1931, Luiz Gama tornou-se a primeira pessoa negra a ter uma estátua na cidade de São Paulo, localizada no Largo do Arouche, centro da cidade. Postumamente, em 2015, 133 anos após sua morte, recebeu o título oficial de advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, em 2018, foi declarado patrono da abolição da escravidão no Brasil. Este homem notável na história representa de maneira exemplar a desesa da liberdade e a luta contra o racismo!
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